“A transformação é a oportunidade de fazer mais e melhor com o que já existe. A demolição é uma decisão fácil, de curto prazo. É um desperdício de muitas coisas – um desperdício de energia, um desperdício de material e um desperdício de história. Além disso, tem um impacto social muito negativo. Para nós, é um ato de violência.” 
– Anne Lacaton, vencedora do Pritzker 2021.
De abordagem consistente com a estratégia de intervenção já adotada no início do concurso, o desenvolvimento do projeto apresentado para a nova sede do Senac Belo Horizonte tem como principais princípios norteadores o respeito pela pré-existência e o respeito pelo pertencimento à cidade já consolidado pela instituição. As repercussões de ambos temas, muito caros à discussão contemporânea da arquitetura, são refletidos numa proposta que se recusa a desperdiçar os recursos materiais, econômicos e sociais de grandes estruturas que, com precisão e inteligência, podem ser reaproveitadas sem perdas significativas, tal como se mescla com generosidade a seu entorno urbano consolidado.
"A partir do existente, esculpiu-se o vazio e o pilotis. O vazio unificou os dois edifícios, e o pilotis liberou o térreo para a cidade”

Acreditamos numa proposta que preza pela requalificação do conjunto sem ignorar a memória e a herança da arquitetura moderna, encarando o desafio da transformação do conjunto com uma abordagem criteriosa e criativa, visando a economicidade e o aproveitamento máximo das pré-existências, porém lapidando um novo projeto, contemporâneo e paradigmático para o Centro de Belo Horizonte, tanto do ponto de vista urbano quanto institucional. 
O principal investimento foi na potencialização do térreo como lugar urbano oferecido às pessoas. Considerando as diretrizes da Operação Urbana, oferecemos os 43 metros da fachada ativa do térreo à cidade, um pilotis com grande permeabilidade visual e fruição pública de maneira convidativa e abrigada, conduzindo o usuário a uma grande praça no interior do lote que se relaciona com o novo bloco de eventos e gastronomia. 
A concentração do acesso de serviço à leste, juntamente com a ocupação longitudinal das áreas de serviço, permitiram o aproveitamento da estrutura regular e generosa do bloco 1 para esculpir o terro em benefício da cidade, criando um pilotis ajardinado que se conecta diretamente à Praça Senac, verdadeiro oásis urbano no centro de Belo Horizonte. Esta área de convívio, plenamente ajardinada, concentra todos os principais usos públicos do programa sendo auditório e o bar no primeiro térreo, e o restaurante e biblioteca no segundo.
Vemos no projeto do Senac BH uma oportunidade para que a instituição ganhe uma nova sede imersa em simbolismo para a cidade, uma arquitetura alinhada à nova realidade de austeridade pós-pandemia, sustentável desde a abordagem projetual até a operação futura do edifício. 
Um conjunto renovado, que expressa seu valor justamente pelo caráter da transformação, sem demolições significativas que obliterem a sua coerência urbana, mas com intervenções cirúrgicas assertivas que causem encantamento espacial e promovam o encontro, elevando a visibilidade da instituição na rotina urbana do Centro através de um térreo e uma fachada que são, incondicionalmente, cidade.